Qualidade na alimentação dos polypterus – Relação energia x Nutrientes
Ao ler o artigo do Dr. Rodrigo Mabilia algumas informações me deixaram preocupado e intrigado.
Elas fizeram refletir mais uma vez sobre como alimentei e alimento meus polypterus. Sempre ofereci comida à vontade, muitas vezes ricas em gordurosas e proteínas. Volto a discutir este assunto já que ele faz parte de uma rotina de debates com outros aquaristas que conheço: Será que este alimento realmente está atingindo as necessidades do peixe?
Segue abaixo algumas conclusões retiradas do artigo2.
Segundo Rodrigo Mabilia: “Os peixes precisam dietas contendo níveis adequados de energia. Os peixes alimentam-se até o momento de satisfazerem suas necessidades energéticas. Se uma ração possuir altos níveis de energia o peixe irá cessar mais rapidamente a ingestão de alimento e muito provavelmente não ingirirá o suficiente para atender as suas exigências proteicas e de outros nutrientes”.
A energia, portanto limita o consumo de alimento para os peixes e o crescimento.
Motivos pelos quais os polypterus não precisam de tanta energia na alimentação.
1- Os peixes não precisam de energia para manter a temperatura do corpo constante (ectodérmicos).
2- Devido a pouca movimentação nos aquários o gasto de energia é menor do que em seu habitat natural.
3- O processo de excreção da amônia ocorre passivamente ao contrario dos mamíferos, por exemplo, que necessitam de energia para transformar a amônia em ureia (forma menos tóxica) para excretar.Este processo ocorre quase que 80% nas brânquias.
Sendo o polypterus um carnívoro oportunista na natureza sua alimentação é composta de basicamente pequenos peixes, larvas e insetos1, já no aquário a alimentação é bem diferente ela possui altas taxas de proteínas e gorduras. Estas proteínas geralmente vêm das seguintes fontes: de rações com altas taxas de proteínas, carnes de frango, peixes e carnes vermelhas em geral.
Proteínas e aminoácidos
Os aminoácidos são compostos orgânicos que desempenham funções básicas de formação dos sistemas dos peixes (Ossos, escamas etc.). A união de aminoácidos formam as proteínas. Através da digestão das proteínas a amônia é liberada como forma de excretas, nos rios não existe problema com a amônia já que a mesma simplesmente é levada pela corrente. Em aquários de carnívoros a taxa de amônia deve ser monitorada com muita atenção. Uma filtragem biológica de qualidade e trocas periódicas é fundamental.
Se os peixes alimentam-se para atender suas necessidades energéticas é necessário um equilíbrio na alimentação entre a taxa de energia e as taxas de proteínas, vitaminas, gorduras entre outros nutrientes para que não ocorram problemas no crescimento, no acumulo de gorduras, problemas nos órgãos, queda da resistência (porta aberta para doenças) e longevidade dos polypterus.
Sendo o polypterus um peixe que possui necessidade relativamente baixa de energia, pois não é um peixe muito ativo e um carnívoro oportunista necessitando de uma quantidade de proteínas altas devemos ficar atentos na quantidade/qualidade da ração oferecida para o peixe.
Um trecho do artigo me chamou muito atenção, pois eu pensava da mesma forma:
“… É muito importante colocar aos prezados leitores que a qualidade da proteína é muitas vezes mais relevante que a própria quantidade deste nutriente numa ração. Anotem esta frase para quebrar um paradigma estabelecido por uma prática de marketing muito baixa: uma ração nem sempre é melhor do que a outra por conter uma quantidade maior de proteína. Algumas marcas apelam ao consumidor iludindo que o fato de sua ração conter X% de proteína a mais que seu concorrente é melhor.”
“Uma dieta hiperproteica, ao contrário pode causar danos à saúde de algumas espécies de peixes de acordo com o seu hábito alimentar e fase de vida”.
Gorduras e ácidos graxos:
Segundo Mabilia os lipídeos desempenham funções importantes como:
• Suporte de energia;
• Serve de componente estrutural de tecidos;
• Agem sobre a regulação de diversas funções do organismo.
Já o excesso pode provocar queda na eficiência das funções citadas acima.
A deficiência pode provocar:
• Diminuição de crescimento;
• Aumento de mortalidade;
• Aumento da taxa respiratória.
O artigo cita outros problemas, mas estou comentando apenas os que mais eu observo em relatos em fóruns e com meus peixes.
Segue abaixo a minha sugestão3 de uma alimentação inicial para polypterus pequenos.
Tentar alternar os dias na semana com:
• Artêmia Salina: Rica em gordura e vitaminas C, A e B. Alimento perfeito para grande maioria de peixes ornamentais, principalmente vivas. Cistos de artêmias são indicados para alevinos.
• Tubifex: Alimento liofilizado1, vivos podem conter parasitas. Rico em vitaminas B, C e A. É um pequeno anelídeo (grupo de minhocas), que costuma crescer em ambientes lamacentos ou esgotos.
• Rações Granuladas: Serve como base para todo tipo de peixe, cada uma com sua especialidade. Geralmente são ricas em vitamina C.
• Gammarus: Pequeno crustáceo (cerca de 2 cm) que são encontrados em águas doce ou salgada. Usa-se muito para alimentar répteis aquáticos, usados secos.
• Larvas de Tenébrio: É uma espécie de besouro conhecido como Tenébrio molitor. Comumente utilizado como alimento vivo para peixes de médio e grande porte. Também usado para peixes menores em pequenos pedaços.
• Minhocas: Proteínas, todos os aminoácidos essenciais e não essenciais.
Para polypterus médios e grandes alternando os dias:
• Tenébrio: Idem acima
• Pequenos peixes vivos.
• Ração de boa qualidade para carnívoros.
• Pedaços de peixes.
• Minhocas: Proteínas, todos os aminoácidos essenciais e não essenciais.
Eu estou evitando oferecer carne vermelhas, pois elas possuem altas taxas de gorduras e as quantidades de proteínas podem ser supridas de outras formas.
Estou evitando também a carne de frango por conta das polêmicas a respeito da utilização de hormônios de crescimento e antibióticos nas aves para potencializar seu desenvolvimento. Segundo a Codex Alimentarius – órgão criado pela FAO (Organização das Nações Unidas para a Agricultura e alimentação) e pela Organização Mundial de Saúde para desenvolver normas alimentares a qual o Brasil é vinculado, estas práticas não ocorrem no país. Mas como a carne de aves não faz parte da dieta regular dos polypterus não vou oferecer aos meus.
Lembrando que é fundamental que o aquário tenha também uma temperatura média compatível com a espécie para que o peixe tenha um desenvolvimento metabólico satisfatório.
Existem vários relatos de mortes súbitas de polypterus, cada vez mais eu acho que estas mortes estão ligadas a alimentação oferecida aos peixes e potencializadas pelo stress e parâmetros da água. Ao observar algumas autopsias de peixes em fóruns estrangeiros e nos meus próprios peixes a quantidade de gordura era sempre muito alta podendo ser um indício para um estudo mais aprofundado.
P. endlicheri endlicheri
Foto: Blangis