As plantas da família Hydrocharitaceae


As plantas da família Hydrocharitaceae

Autor: Alexandre Avari
Não se assuste com o nome! As plantas da família Hydrocharitaceae são nossas velhas conhecidas, você pode até ter uma aí, em seu aquário!
Estamos falando de plantas que, visualmente, parecem não ter nada a ver umas com as outras, mas ao olhar de perto a estrutura de suas folhas translúcidas, podemos perceber sua semelhança, um estranho aspecto esponjoso que se confirma com o toque.
São as Elodeas (há quem chame de “Elodéa”, há quem chame de “Elódea”), dos gêneros Egeria, Hydrilla (ou Elodea anã), Lagarosiphon (ou Elodea “crispa”); as Blyxae Vallisneria e as misteriosas e belas (as mais belas plantas de aquário, na humilde opinião desse autor) Ottelia, dentre outras.
São plantas aquáticas em sua maioria, com algumas exceções como a Limnobium, planta de folhas circulares ou elípticas das regiões quentes das Américas, que são basicamente flutuantes, mas pode vegetar de forma emersa em terreno alagado.
São tão especializadas à vida submersa que existem espécies exclusivamente marinhas, dos gêneros Thallasia e Halophila, por exemplo. São conhecidas como grama marinha ou grama de tartaruga em suas regiões de origem, basicamente Oceania e ilhas do pacífico, como o Hawaii. Infelizmente essas espécies não são encontradas no mercado aquarístico brasileiro, imaginem as possibilidades!
Imagem
Thallasia testudinun
Foto: http://www.igfa.org
Imagem
Halophila ovalis
Foto: John Huisman
AS ELODEAS
As Elodeas, como são conhecidas, são plantas tão prolíferas e tão comuns que muitos aquaristas as desprezam em suas montagens. Pena, pois possuem colorido interessante e efeito decorativo fantástico quando bem adaptadas
Imagem
Egeria densa
Foto: latifa.ro
Por sua rusticidade e beleza, as Elodeas verdadeiras, hoje conhecidas no meio científico como Egeria, duas espécies conhecidas: E. densa e E. najas, ambas nativas da América do Sul, foram introduzidas nos Estados Unidos, Europa e Japão, onde são consideradas pragas.
Pudera! Egeria, além de possuírem caules muito ramificados, atingem vários metros de comprimento! Por serem plantas verdadeiramente aquáticas, seu sistema radicular (a nutrição basicamente pelas raízes) e atrofiado, a planta vegeta parcamente fixada ou mesmo livre, cobrindo densamente grandes áreas numa velocidade incrível!
As demais Elodeas, dos gêneros Hydrilla e Lagarosiphon, são um pouco menos invasivas pelo simples fato de serem menores e menos robustas, não pela sua taxa de crescimento, igualmente espetacular. São ainda mais delicadas visualmente.
Hydrilla, conhecida como Elodea anã, é originária nas partes mais quentes da Europa. Também fora introduzida pelo mundo, e é considerada uma praga sobretudo no estado da Florida, nos Estados Unidos, onde chega a prender pequenas embarcações e impedir a navegação em pequenos riachos. Como Egeria.
Já Lagarosiphon, a Elodea “Crispa”, possui folhas mais finas e delicadas, a espécie brasileira mais encontrada em nossas lojas ainda não foi classificada adequadamente, é originária das poucas lagoas de águas alcalinas e duras do Pantanal Mato-grossense, a famosa região de Bonito. As Lagarosiphon mais utilizadas em aquarismo em todo o mundo são de origem africana, como a L. cardofanus, da Ilha de Madagascar e a L. maior, do sul da África.
Imagem
Lagarosiphon major
Foto: Perth Cichlid Society
São excelentes oxigenadoras e grandes consumidoras de CO2. Quando em ambientes da água dura, praticam intensamente em seus organismos um processo bioquímico conhecido como descalcificação biogênica, extraindo dióxido de carbono dos sais dissolvidos na água.
O processo químico se dá ao quebrar as moléculas de bicarbonatos, que possuem por definição em sua composição o grupo HCO3. Por exemplo, o bicarbonato de cálcio, cuja fórmula química é Ca2(HCO3), é dissociado em uma molécula de hidróxido de cálcio, CaOH2, e duas moléculas de gás carbônico, CO2.
Não precisam de substrato fértil, mas vão muito bem nele, apenas luz e alguma fertilização líquida é suficiente, com apenas isso suas Elodeas prosperarão lindamente!
As folhas das Egeria são bastante resistentes, apesar da aparência delicada. uma vez que amarelam, seus esqueletos podem ficar anos no aquário sem se degradarem muito. Aliado a seu crescimento fantástico, pode-se pensar em utilizar as folhas dessa planta para fazer substratos de desova de determinadas espécies, sobretudo para os killifishes. É uma alternativa ecologicamente correta e bastante simples e barata, basta retira-las do caule da planta de deixa-las no fundo do aquário.
BLYXA E VALLISNERIA
Poucas plantas de aquário possuem o efeito decorativo das espécies de Blyxa e Vallisneria, são plantas aquáticas lindas e relativamente fáceis de manter.
Vallisneria suporta muito bem águas muito duras e com concentrações razoáveis de sal, é das poucas plantas que prosperam em aquários salobros e de ciclídeos africanos. As espécies V. americana, da América do Norte e Caribe e V. spiralis, cosmopolita, são as mais comuns. Apreciam solo fértil, mas vivem bem apenas com fertilização líquida.
Imagem
Vallisneria spiralis
Foto: Giuzeppe Mazza
Suas raízes, apesar de perderem boa parte de sua capacidade de absorção de nutrientes, ainda o fazem consideravelmente, e são grandes e fortes, fixando bem a planta no substrato.
Muitos dos cultivadores dessas plantas tem o hábito injustificado de cortar suas raízes para colocá-las à venda, o que torna os primeiros meses da planta em nossos aquários inesquecíveis, pois se desprendem com muita facilidade do substrato e temos que as replantas quase que diariamente, até por que suas folhas possuem muitas vesículas com ar, que faz com que as folhas (e a planta é basicamente apenas folhas) flutuem.
Uma vez enraizada, a planta prospera e chega a florescer e ficam ainda mais bonitas. Existem exemplares machos e fêmea, mas os machos são bastante raros. Os caules retorcidos, frutos globulares cheios de sementes e flores submersas. O efeito é muito interessante! Desses caules costumam brotar muitas mudas, costumam propagar com relativa rapidez.
É cada vez mais raro encontrar no mercado exemplares verdadeiros de V. gigantea. As folhas desta planta atingem mais de dois metros de comprimento e é uma das raras opções para aquários mais profundos.
As Blyxa são um pouco mais exigentes. Preferem água mole, substrato fértil e muita luz.
A espécie B. japonica é pequena e forma roseta globular de folhas finas e claras. Apesar de ser uma planta pequena, merece destaque pela sua exuberância. Vai muito bem amarrada à troncos com musgo esfagno ou fibra de xaxim, onde consegue um efeito de destaque muito interessante, semelhantes ao das bromélias epífitas na mata atlântica.
Imagem
Blyxa japonica
Foto: RGD
A espécie gigante, B. aubertii, da Ilha de Madagascar, é ainda rara e assemelha-se muito as Vallisneria, se não fosse a distribuição das folhas em roseta.
A florada das Blyxa ocorre com certa freqüência e é similar à das Vallisneria. As sementes precisam de um período relativamente longo para amadurecer, cerca de seis meses.
AS OTTELIA
Essas são plantas das mais delicadas, equiparadas às Aponogeton madagascariensis em exigência! Existem cerca de 40 espécies pelo mundo, sendo pelo menos uma já devidamente classificada nativa do Brasil e pelo menos mais uma espécie a ser catalogada.
As Ottelia são plantas bastante especializadas em seus nichos ecológicos (função que um animal ou planta exerce na natureza), apesar de sua origem tropical, preferem águas temperadas, cerca de 25ºC, pois geralmente vegetam em riachos rápidos e lagoas sombreadas.
Imagem
Provável Ottelia brasiliensis
Foto: Bruno Salvini
Não precisam de grande luminosidade, mas o calor as faz definhar rapidamente. A movimentação e grande renovação da água é extremamente benéfica para esta planta.
A espécie hoje classificada, Ottelia brasiliensis, possui folhas finas e alongadas, avermelhada e ligeiramente retorcida, parecendo muito com uma espécie deEchinodorus ou Aponogeton. Exemplares com folhas mais largas podem ser a mesma espécie, porém numa variedade adaptadas para águas de movimentação mais lenta.
Essa espécie ainda não descrita, que posso afirmar existir, foi encontrada no estado de São Paulo no começo dos anos 90. Possui folhas largas e verde claro, parecendo muito com Echidodorus horizontalis a olhos pouco treinados.
Não requerem substrato fértil, suas raízes são atrofiadas, praticamente órgãos de fixação, a absorção de nutrientes se dá ao longo de toda a planta, por isso é necessário providenciar fertilização líquida em quantidade para essas plantas, sobretudo rica em ferro, elemento que é muito utilizado, o que pode acabar causando uma explosão na população de algas. Trocas parciais freqüentes, Filtragem eficiente e até mesmo um filtro esterilizador, como o Ultra Violeta, são muito úteis na manutenção desta que é uma das mais belas plantas de aquário, justificando o investimento.
Florescem com freqüência uma vez adaptadas no aquário, e este é um espetáculo digno de ser apreciado. A Flor amarela da Ottelia é muito bonita, mesmo quando em botão, é fantástica. Produz muitas sementes de fácil germinação. Porém a floração desgasta muito a planta-mãe, geralmente levando-a ao rápido definhamento. Muitos aquaristas preferem extirpar a haste floral tão logo ela apareça para preservar a planta.
Por se tratar de uma planta muito rara, talvez seja melhor mesmo retirar a flor e garantir a vida de seu exemplar, mesmo privando-se do espetáculo da florada.
Ou, quem sabe, se preparar para germinar as pequenas sementes? Preparando um recipiente raso e bem iluminado, com suave e constante troca de água com fertilização adequada, forrado com areia fina. As sementes germinam e crescem rapidamente e podem ser transferidas para o aquário quando atingirem cerca de 5cm de altura.
Ainda pode-se tentar salvar a planta-mãe, oferecendo-lhe maior luminosidade, abaixando um pouco a temperatura e reforçando a adição de nutrientes, mesmo assim, as chances não são lá muito boas.
Ainda assim, com todas as dificuldades, a Ottelia recompensará seus esforços com sua beleza e exuberância. Coisa de família!
Referências Bibliográficas
NOTARE, Marcelo – Plantas Hidrófilas e seu Cultivo em Aquário.
Revista Tropical Fish Hobbist
Revista Habitat
IBGE – Vocabulário Básico de Recursos Naturais e Meio Ambiente
←  Anterior Proxima  → Página inicial